A Mão de Eurico – O Presidente Mais Polêmico de Todos os Tempos

Pavio curto, voz grossa e dedo em riste. Se o futebol brasileiro teve um personagem que parecia saído de um filme de máfia — e que dominava os bastidores como poucos — esse nome era Eurico Miranda. Dono de uma personalidade imponente e autoritária, foi dirigente, deputado federal, vice-presidente da CBF e, sobretudo, o homem mais temido do futebol brasileiro nos anos 90 e 2000.

Seu nome é sinônimo de polêmica. E sua história é recheada de episódios inacreditáveis.

🏛️ Eurico: do Direito ao poder no Vasco

Nascido no Rio de Janeiro em 1944, Eurico Ângelo de Oliveira Miranda se formou em Direito e entrou para o Vasco como conselheiro na década de 1970. Ganhou notoriedade como vice-presidente de futebol nos anos 80 e 90, quando montou grandes times e acumulou títulos.

Comandou o futebol do Vasco da Gama de forma direta e centralizadora — decidia contratações, discutia com imprensa, enfrentava jogadores e até rivais institucionais. Foi presidente do clube entre 2001 e 2008, e novamente entre 2014 e 2017.

🔥 A briga eterna com o Flamengo

Se havia um combustível emocional para Eurico, esse combustível se chamava Flamengo.

Ele se autodeclarava inimigo institucional do rubro-negro e protagonizou momentos que definiram a maior rivalidade extracampo da história do futebol carioca. Segundo ele, o Flamengo era favorecido pela mídia e por decisões da FERJ e da CBF. Sua missão, dizia, era "proteger o Vasco de ser passado pra trás".

🧨 Exemplos marcantes:

• Impedir Fla campeão em São Januário: "O Flamengo jamais será campeão dentro do nosso estádio!", dizia — e nunca foi.

• Recusa em dividir ingressos no Maracanã: em várias finais, exigiu 50% da carga para a torcida vascaína ou ameaçava tirar o time de campo.

• Acusações constantes: chamava a Globo de “aliada do Flamengo” e usava o microfone para provocar o rival sempre que podia.

📌 Frase famosa:

"Comigo, o Flamengo não faz festa. Aqui é Vasco, porra!"

🏟️ O episódio do desabamento em São Januário (2000)

Ao contrário de muitos relatos errados, o famoso incidente do desabamento aconteceu em São Januário, e não no Estádio João Havelange. O fato ocorreu durante a final da Copa João Havelange de 2000, entre o Vasco e o São Caetano.

No primeiro jogo, a grade da arquibancada de São Januário cedeu com a pressão da torcida, deixando dezenas de feridos. O jogo foi suspenso, e a CBF cogitou anular a partida ou declarar o São Caetano campeão.

Eurico entrou em ação como um rolo compressor: invadiu a sede da CBF, ameaçou processo, gritou com dirigentes e conseguiu que a final fosse remarcada para o Maracanã. O Vasco venceu o jogo seguinte por 3 a 1 e ficou com o título.

🇨🇴 O apagão na Colômbia e a pressão nos bastidores

Durante a Libertadores de 2000, o Vasco enfrentava o Atlético Nacional em Medellín. Com o time brasileiro vencendo o jogo, as luzes do estádio apagaram misteriosamente aos 65 minutos.

Eurico desceu ao vestiário da arbitragem aos berros, exigindo explicações. Alegou tentativa de manipulação. Após horas de pressão, a partida foi remarcada para o dia seguinte. Resultado: classificação vascaína. Segundo muitos, a vaga foi conquistada no grito de Eurico.

⚔️ Conflitos com jogadores

Eurico também teve embates duros com atletas — mesmo com ídolos do Vasco.

Exemplos:

• Romário: Apesar de ser uma das maiores contratações do clube, Eurico vivia em atrito com o Baixinho. O auge foi quando Eurico impediu a inscrição de Romário na Taça Rio de 2005, alegando questões contratuais.Romário explodiu:

  "Ele pensa que é dono do Vasco. Mas o clube é do torcedor."

• Viola: Após discutir com o atacante, Eurico rescindiu o contrato no meio do Brasileirão de 1997, mesmo com Viola em boa fase.

• Pedrinho: Ídolo da base, teve sua saída forçada após críticas públicas à gestão.

🏆 Bastidores de títulos e poder na CBF

Eurico foi peça-chave em várias decisões de bastidor da CBF e da Conmebol. Exemplo mais emblemático: sua atuação para tirar o Palmeiras do Mundial de Clubes da FIFA em 2000. Apesar do Palmeiras ser o campeão da Libertadores, Eurico garantiu que o Vasco entrasse como representante sul-americano.

Ele usou sua influência como dirigente e político, e conseguiu — com apoio da CBF — que o Palmeiras fosse cortado. A manobra rendeu o ingresso vascaíno no Mundial (onde perderia a final para o Corinthians nos pênaltis) e uma rivalidade eterna com os palmeirenses.

🗣️ As frases que viraram folclore

• “Enquanto eu estiver aqui, o Flamengo não levanta taça no nosso estádio.”

• “O Vasco não precisa da Globo. Nunca precisou.”

• “Sou feio, mas sou forte. Não mexe comigo.”

• “Quem manda no futebol sou eu!”

⚰️ Legado e despedida

Eurico Miranda faleceu em 2019, aos 74 anos, vítima de câncer. Mesmo após sua morte, seu nome ainda divide opiniões entre torcedores do Vasco. Para alguns, foi um defensor implacável do clube, que enfrentava o sistema com coragem. Para outros, foi um autoritário que mergulhou o clube em crises e afastou o Vasco da modernidade.

Mas uma coisa é certa: ninguém ficou indiferente a Eurico Miranda.

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